Senti vontade de escrever. E que ocasião mais adequada para isto que o Dia das Mães? Há tantas razões para se escrever algo neste dia, menos para aqueles que perderam suas mães recentemente; ou será que sobretudo estes é que tem razão para escrever neste dia? Seja como for, senti vontade de escrever e acho que tenho razões de sobra para escrever no Dia das Mães!
Não obstante isso, não sei ao certo o que escrever. De que falarei? Da mãe da qual escutei falar que infelizmente o assassinato do filho foi um descanso para ela, que já não tinha mais sossego em casa? Da mãe que se angustia por ver o seu filho desperdiçar oportunidades e não saber como fazer para que ele entenda o seu esforço quase sobre-humano para propiciar-lhe o melhor possível, em termos de educação? Ou será que devo falar da mãe que atura calada as agressões físicas do marido porque seus filhos são loucos de amor por ele ou porque ela não quer que seus filhos sejam privados do sustento que lhes favorece o pai?
Não sei. Definitivamente não sei o que escrever. Minto, eu sei sim, só que é incomum. Não quero falar tanto das mães. Quero falar, sim, sobre os filhos e as filhas, ou melhor, falar aos filhos e às filhas. Sejam como forem: biológicos, adotados, de criação ou de consideração.
Há filhos de todos os jeitos, mas a mãe sempre espera mesmo é que seus filhos e filhas organizem a própria vida e que, no futuro, quando já adultos, tenham sensibilidade para com as suas necessidades; talvez até coisas simples, como não a abandonar, no tempo em que a terceira idade chegar; ou ser generosos para com ela, caso eles melhorem de vida.
Há filhos e filhas que as mães trazem à vida para roubar-lhes à vida. E estes são muitos os casos, uns até fazem de propósito (criminosamente, como vemos nas páginas dos jornais e nos telejornais), mas muitos fazem sem querer. Recordo do caso de uma senhora fervorosa que havia em minha pequenina cidade. Todas as vezes que eu a encontrava, ela só tinha lábios para falar de suas filhas, ou melhor, de uma filha. Uma jovem que convivia com um rapaz, dependente químico, que a agredia regularmente. Isto tirava o sono da fervorosa senhora, que temia pelo pior – temia que sua filha alongasse a lista das mulheres assassinadas pelos maridos, noticiadas nos telejornais.

Certa feita, depois de muito tempo, reencontrei aquela querida mãe. Estava com o semblante estranho, com ares de loucura ou coisa parecida… cabelos assanhados, inquieta e com fala arrastada. Pediu para falar. Disse que viria à tarde conversar sobre a filha, porque ela não agüentava mais. Eu disse que esperaria. Aconteceu que a tarde não esperou por ela. No fim daquela mesma manhã, ela foi acometida por um AVC, Acidente Vascular Cerebral, o famoso derrame.
Sues filhos – sua filha – assistiriam, agora, o declínio progressivo do fervor e da vitalidade daquela senhora, que definharia até o ocaso de sua vida – a morte. Tudo por uma coisa simples, o desgosto. O desgosto de não ver as filhas da maneira que gostaria, os traços da educação que as legou. Mas é assim mesmo, a vida tem dessas coisas.
Aqui, ficam duas lições: aos filhos e às filhas, não causem desgosto em suas mães, por conta de atos inconseqüentes. Escutem os mais velhos: eles podem não ser donos da verdade, contudo, tem conhecimento de vida. Às mães, fica a lição de que seus filhos e filhas são pessoas diferentes de si, são outras vida; por isso, cabe aprender o que ensina, Khalil Gibran, em O Profeta: “Vossos filhos não são vossos filhos. […] Eles vêm através de vós, mas não vos pertencem. Podeis doar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos, pois eles têm seus próprios pensamentos. Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas, pois suas almas moram na casa do amanhã, que vós não podeis visitar nem mesmo em vossos sonhos” (p. 41).
Portanto, queridas mães, façam o que tiver de fazer; no mais, vivam e aproveitem a vida. Até outro dia. Espero que este, lhes seja muito feliz!
Adriano Portela
Salvador, maio de 2011
Só nos damos conta do que nossas mães significam quando estamos adultos morando sozinhos ou quando elas falecem. Excelente texto!
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Obrigado, Luiza.
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