![]() Ele não só tem poemas líricos, já que também fez de sua poesia um exercício sócio-político. Mas lendo muitos de seus poemas, somos como que tomados, mobilizados pela beleza. Brotam de dentro de nós as mais entusiasmadas afeições por quem amamos e o desejo de vivermos apaixonados. Devo a Neruda a inspiração, a tônica, a cor, de alguns dos meus poemas escritos entre os 17 e 20 anos de idade. Agradeço a Suelayne por tê-lo apresentado a mim. Trago abaixo o Soneto XXVII, do Cem Sonetos de Amor, para ilustrar o lirismo de Neruda. O soneto em questão manifesta um eu-lírico tão apaixonado, que faz da nudez da amada objeto de sua poesia. Seus versos retiram o corpo da amada da objetificação que padece o corpo feminino, tão recorrentemente reduzido à categoria de corpo-sujeitado, corpo-dominado pelos homens. Aqui, o corpo feminino emerge como corpo-contemplado, corpo-admirado.
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Nua és tão simples como uma de tuas mãos, lisa, terrestre, mínima, redonda, transparente, tens linhas de lua, caminhos de maçã, nua és magra como o trigo nu. Nua és azul como a noite em Cuba, Nua és pequena como uma de tuas unhas, como num longo túnel de trajes e trabalhos: (Pablo Neruda) ORIGINALDesnuda eres tan simple como una de tus manos, Desnuda eres azul como la noche en Cuba, Desnuda eres pequeña como una de tus uñas, como en un largo túnel de trajes y trabajos: |