Suam no trabalho as curvadas bestas
e não são bestas
são homens, Maria!Corre-se a pontapés os cães na fome dos ossos
e não são cães
são seres humanos, Maria!
e não são bestas
são homens, Maria!Corre-se a pontapés os cães na fome dos ossos
e não são cães
são seres humanos, Maria!
Feras matam velhos, mulheres e crianças
e não são feras, são homens
e os velhos, as mulheres e as crianças
são os nossos pais
nossas irmãs e nossos filhos, Maria!
Crias morrem á míngua de pão
vermes na rua estendem a mão a caridade
e nem crias nem vermes são
mas aleijados meninos sem casa, Maria!
Do ódio e da guerra dos homens
das mães e das filhas violadas
das crianças mortas de anemia
e de todos os que apodrecem nos calabouços
cresce no mundo o girassol da esperança
Ah! Maria
põe as mãos e reza.
Pelos homens todos
e negros de toda a parte
põe as mãos
e reza, Maria!
(José Craveirinha)

José João Craveirinha, considerado o maior poeta moçambicano, nasceu a 28 Maio 1922, em Maputo, Moçambique. Em 1991, tornou-se o primeiro autor africano contemplado com o Prémio Camões, o mais importante prêmio literário da língua portuguesa. Morreu em 06 Fevereiro 2003.